O depois
Me joguei na cama e fiquei encarando o teto encardido, ou era ele quem me encarava? Antes fosse, mas já o considerava alguém pra conversar, abri a boca para perguntar: Por que? E meia dúzia de lágrimas fugiram de meus olhos, um soluço rompeu minha garganta fechada, ardendo feito fogo, minhas mãos já desarrumavam a colcha apertando-a com toda força que ainda tinham, já eram centenas de lágrimas e o teto ainda não havia respondido minha pergunta. Então comecei um diálogo comigo e minha solidão.
Sabe o porquê? É difícil demais entender o fato, de quem nós mais amamos estar dividindo sua vida com outra pessoa, saber que é a mão dela que repousa na dele agora, que é na testa dela que ele beija, é o cabelo dela que vai receber todos os elogios, que o cheiro dele estará na blusa dela, não na sua, que talvez seja com ela que ele consiga dizer eu te amo...O teto manteve-se calado, fechei os olhos para conter o choro, era patético, depois de tanto tempo, ainda me importar com aquilo.
O ventilador não ajudava em nada, só sabia rodar e rodar, como se balançasse a cabeça negativamente para a cena triste que estava contemplando, uma garota que se dizia bem resolvida, e que jurava para as outras pessoas que o passado não mais importava, estar ali, se destruindo, por algo que não era sua culpa. Mas as coisas terem se ajeitado na vida dele primeiro, e ele ter seguido em frente, fazia com que eu sentisse inveja, queria ter a mesma coragem de pisar em cima de tudo que aconteceu, de extrair o que sentia, e me dedicar a outra pessoa, começar outra vida...
Mas estou presa neste porto, ancorada com aquele amor ridículo, que faço questão de cultivar e manter forte, lembrando dele todas as noites, guardando aquela foto, onde havia dois sorrisos, muita vontade de tentar, e a mínima ideia do que iria acontecer depois. E como é difícil a gente controlar o que acontece "nesse depois".
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