A Persistência da Memória


 Tudo tem passado tão depressa, o tempo não escorre mais pelas mãos, agora evapora, a vida não parece mais com aquele quadro de Dali, "A Persistência da Memória", onde tudo parece acontecer tão devagarinho, tão cravado, por aqui é intenso carrossel, funcionando a todo vapor, o carrossel dos meus devaneios acelera a minha vida, enquanto me perco nas ilusões e cenas criadas pelo meu pavor particular. E quando percebo já é segunda novamente, já não lembro o almoço de sexta, ou se dormi bem no sábado, mas a insônia do domingo para segunda é garantida, se eu vacilar um pouco.

Por fora sou uma superfície de oceano tranquila, já no meu interior habitam todas as tempestades, insanas, tentando emergir o tempo todo pelos meus olhos, boca e respiração, mas eu engulo sempre as minhas palavras, tenho medo de parecer louca, então as mastigo amargamente todos os dias, sinto no meu peito ardido uma saudade latejante da menina que eu fui, daquelas épocas onde tudo era muito simples de compreender, e quando eu não sabia, eu só fingia saber, e deixava para lá todas as coisas ruins, eu confiava mais nas pessoas e em mim mesma.

Mas eu não sou obra de arte, que nasceu e ficou presa em uma tela, sou a mais pura matéria orgânica, que se modifica, se deteriora, e um dia vai se extinguir, embora eu inveje a eternidade das boas obras, aquelas que ficam confinadas em grandes museus, cuidadas e restauradas pelas melhores mãos, me sinto mais como um rascunho ruim, esquecido no fundo de uma gaveta, inacabado, incompleto, gritando pro silêncio escuro: "ALGUÉM RECONHEÇA O MEU VALOR!". Pobre menina. Não tem espelho em casa? Quando foi que eu me perdi de mim? Não sei, mas quando será o dia que me encontrarei, isso sim está sob o meu controle, talvez...

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