Desentulhando


Eu não sei quando perdemos o foco naquela noite, ou talvez estarmos juntos foi a perda de foco, eu era tão jovem e não sabia muito de começos, mas estava prestes a virar perita em finais. Eu só tinha dezesseis anos, não preciso lembrar que tudo com você era inédito, chegava a jurar que a vida real poderia ser como nos filmes ao seu lado, então fazia de migalhas, irrecusáveis pratos principais suculentos.

E aí, anos depois estou aqui recontando a dor, só que sem dor, como assistir um filme ruim no mudo. Aquela noite é só borrão, e foi também esbarrão por muito tempo, não me deu o direito de descobrir o que era bom, e mesmo assim eu te procurei por muito tempo em outros abraços, mas ninguém seria tão ruim, foi até o dia que percebi, "ninguém seria tão igual, tão cretino" dei uma chance para mim mesma de ser melhor do que a patética figura que só lamentava não ter ficado presa no passado, para viver, intensamente, o presente.

Quando passei a experimentar conexões verdadeiras descobri que nós não sabíamos nada, além de interpretar nossos papeis. Como é bom jogar isto pra fora de mim, aqui nestas linhas invisíveis, tem tanta coisa boa agora querendo entrar que preciso jogar o que não uso mais fora, desentulhar aqui dentro sabe? E nada melhor do que pagar o mau com o bem, desejo do fundo do coração que você seja muito feliz, mas não mais que eu, porque eu não terei você, isso já é duas vezes felicidade.

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