Teoria

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Nunca quis que ele fosse embora, pelo menos não até que eu roubasse aquele bendito beijo. Ensaiei, fiz cálculos inúteis, centenas de planos não executados por falta de coragem. Estava perdendo algo que nunca foi meu, mas me sentia assim. Meu corpo também reagia às ultimas notícias, nem comia, nem conseguia fechar os olhos, ficava pensando, pensando... e o medo de tudo mudar com tal partida era imenso.

Tudo conspirava em uma única teoria: o amor não passava de um costume nosso, à uma pessoa, de ver e conversar coisas agradáveis com esse alguém, todos os dias possíveis, e se um dia ela partisse, em duas semanas já não sentiríamos mais a falta dela, e nos acostumaríamos com a nova rotina .

Revia essa minha teoria, enquanto estava a caminho do nosso lugar perdileto. E lá estava ele, sentado na mesma posição, de todos esses anos; devagar, fui aproximando-me e cobri seus olhos, ele sorriu:

- Para... você sabe muito bem, que nessa galáxia, ou pelo menos nessa cidade, não há alguém, que cheire amaciante de roupas tanto assim!

- Não tenho culpa de andar limpa moleque! - Me senti estranha ao mencionar moleque, depois de tanto tempo, ele havia se transformando em um homem, um daqueles bem bonitos por sinal.

Era sempre assim, depois desse diálogo, sempre batia de leve nas costas dele, e pulava o pequeno banco de madeira para sentar a seu lado, triste mesmo, foi me dar conta, de que poderia ser a ultima vez.

- Irei sentir saudade disso...

- Então não vá. - não agora que te amo tanto, quis completar.

- Mas eu preciso!

Naquele momento, vi certeza em seus olhos, e percebi, que nada poderia fazê-lo ficar, mas, talvez, algo pudesse fazer com que ele retornasse um dia. Saltei à sua frente, com o coração aflitamente disparado, e fui dizendo as palavras, lentamente, eu ouvia as frases saírem de minha boca, como se não fossem minhas, peguei sua mão e a repousei no lado esquerdo de meu peito:

- Fique sabendo, que ele nunca bateu assim por ninguém, e pode não estar mais assim caso você volte... Mas neste instante, - fechando os olhos apertei sua outra mão - ele bate intenso, e exclusivamente por sua causa, acho que sempre bateu...

Não queria abrir meus olhos, com medo da expressão que encontraria em seu rosto. Mas como se ele houvesse ouvido meus pensamentos anteriores, passou a mão em meu rosto dizendo:

- Então me dê um motivo para que eu volte um dia!

Temendo estar apenas imaginado tudo aquilo, abri meus olhos, e avancei com calma os dois dedos de distância entre nós.

Foram as melhores duas semanas, pensei, como poderia ter a capacidade de melhorar algo que já era tão bom? Ele me deixou logo em seguida, ao contrário daquela teoria boba, amor não é costume, nem rotina, é achar que não existe outra pessoa com aquele mesmo sorriso, que te entenda tão bem, é não conseguir ver ninguém em seu lugar, é sentir a mesma saudade todos os dias...

O melhor de tudo, quando ele voltou, meu coração ainda batia da mesma forma, dedicamos os próximos anos das novas vidas, descobrindo novos sorrisos, querendo um ao outro, criando novas teorias, de que o amor também é arriscar sentindo medo, é dar a chance de pagar para ver, é ter a mesma batida no peito para sempre.

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