Me achei
Mais um daqueles bloqueios mentais, o que há de errado com a
minha vida? Tomada pelo tédio. Estraçalhada pelos acontecimentos que se
seguiram desde o ultimo verão; nunca demorei tanto tempo para me recompor. A
dor diária não passa quando amenizo a dos outros, e eu fico aqui sozinha
enquanto eles vão embora viver suas vidas. Talvez o que não se encaixe é aquela
poltrona da frente vazia. Ninguém ficou para tomar um café comigo.
Não que uma xícara quente e uma companhia resolva todos os
meus problemas, mas seria um bom ponto de apoio para esquecê-los. O silêncio
que agora mora aqui comigo, só é quebrado com o som da vida lá fora, é a única coisa
que me restou, aprendi a apreciar com zelo. E a ver beleza no som das buzinas,
e música nos risos das crianças, poesia no latido dos cães, aconchego no sino
do vendedor de algodão doce.
Hoje tentei algo diferente, a única pessoa com que troco
alguns diálogos regulamente, precisamente uma vez por semana, é o carteiro,
desejei ir mais além do: “Não tem correspondência para mim hoje?” “Bom dia!” e
também: “Boa tarde”. Ofereci a ele uma xícara de café, e para minha surpresa
recusou, mas disse que se fosse um copo de água aceitaria sim, obrigado. Quando
demos por nós, já estávamos nas velhas poltronas.
Ele já havia me mostrado a foto dos três filhos e contado
sobre suas viagens ao Rio, sorri, não queria que ele soubesse que já havia
rodado em todos os continentes e ainda sim, me sentida tão menos viajada perto
daquelas lembranças tão simples, como ele achara o mar tão belo, e o calçadão
muito mais bonito do que aparecia na TV. Isso se repetiu por algumas vezes, até
que na ultima ele me chamou para o aniversário da filha Ana, de quatro anos.
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