Milagres acontecem


Ela parecia uma criança, chorava feito uma, entre as ruínas do que se tornou tudo que havia construído. Vivendo entre sorrisos falsos, bom humor forçado, ela escondia muito bem a fragilidade que habitava dentro daquele corpo aparentemente forte e saudável, dentro dos padrões do que mundo diria ser uma bela mulher.

Mas a verdade é que as coisas haviam perdido o gosto, o sentido, há tempos, seu olhar era raso, os sentimentos já tinham partido dali junto com aquela verdade que ela não fazia muito questão de exercer, todo mundo decolava e ela só se via afundada em um copo de wiskhy em plena segunda-feira. Talvez eu não faça parte do grupo de pessoas que vivem o "felizes para sempre" pensava, enquanto algo de amargo torcia seus lábios e imitava o que em outras vidas poderia ter sido um esboço de um sorriso.

Talvez seja isso que acontece à pessoas depois de suscetivas ilusões, depois de montes de mentiras que apagam qualquer traço de esperança, a falta de felicidade nos traz inércia. Anestesia a nossa capacidade de perceber novas chances de poder sorrir... Deu alta gargalhada após perceber estar falando isso sozinha e que já era hora de pagar a conta e pegar o casaco, em direção ao velho apartamento onde morava sozinha e dormia assim quase sempre.

Dessa vez havia passado dos limites e mau conseguia chamar um táxi, e quando já pensava em atravessar  a rua com o sinal aberto, aconteceu o que mais tarde iria chamar de um milagre... O amor a encontrou, assim, numa segunda cinza, com bafo de wiskhy barato e nós no cabelo, alguém que decidiu ser gentil numa cidade em que ser violento era quase que aceitável. Uma carona pra casa, passos novos pela cozinha, um café bem forte, uma ligação no dia seguinte, e até flores! Largou a bebida, mudou de emprego e passou a acreditar em amor, em sonhos e principalmente em milagres.





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