Carta para mim mesma.


Ainda sou a mesma que escreve para espantar o nervoso, o medo e a dor, no verso de um extrato bancário na ultima cadeira dos assentos do caixa do banco. Que cria histórias de um minuto com cada pessoa que passa por mim, que se pergunta quais são as histórias vividas pelos outros, e porque chora aquela moça, ou sorri nervoso aquele rapaz? Mesmo debaixo de muitas promessas, e por sempre ouvir o nutricionista da TV dizer que refrigerante faz mau, ainda não consegui parar de beber, amanhã eu paro, juro.

Como também ainda deixo para amanhã, parar de desligar a luz e ir correndo para a cama, é só porque sempre estou com muito sono e quero dormir logo, não é por medo do escuro. Ou talvez porque temo tudo que não possa prever, tudo que eu não veja. Eu ainda tenho aquele velho desejo de mudar para BH sabia? E morar na casa do vovô por um tempo, depois entrar na faculdade e ter um trabalho bom, e meu próprio apartamento sabe, bem pequeno, mas meu, sei que vai dar saudade de casa, de ser recebida pelo Scoob abanando o rabinho, de dar um abraço na minha mãe toda noite, e chamá-la de "meu neném" só porque ela finge não gostar. Saudade de ouvir aquelas histórias que meu pai sempre conta bem na hora da novela, "depois cê me conta pai".

Imagina como seria bom? Eu viria nas férias de julho, e nos finais de ano, e todos teriam orgulho de mim, a melhor aluna da turma de Arquitetura ou Jornalismo, ainda estou vendo qual, mas com certeza seria a melhor! E eles também iriam me visitar e eu iria fazer lasanha porque é o prato preferido da família toda! E finalmente eu poderia ter um gatinho, sem que o Scoob saiba, como companhia no meu apê, depois de um tempo faria muitos amigos, você sabe que tenho facilidade com essas coisas, e quando eu me formasse, iria para uma casa só minha, eu amo essa cidade, mas amo BH também, eu sempre falo não é? Tem algo que me prende por lá, e mais uma vez digo que gosto de estar num lugar onde você pode ser o que quiser sem ser diferente, apenas ser, e poder ter o privilégio de sentar em algum lugar e imaginar de onde vieram aquelas pessoas, o que já passaram... Eu e minha mania de inventar histórias.

"Cê me conhece." Vou até comprar um bloquinho para escrever, essa experiência vai me inspirar demais, meus dedos já se agitam aqui, só de pensar nas possibilidades, e aquele medo do escuro volta também, eu não posso garantir que meus sonhos vão funcionar, mas eu prometo tentar, vê se me ajuda e não faz besteira, segura esse coração e firma essa cabeça nos seus objetivos, que a próxima carta vai ser lá do meu endereço novo, do meu apê, da minha vontade de viver tudo que eu for capaz de sonhar.

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