Escreva, escravo!


Às vezes me pergunto por que escrevo ou se de fato sei o que escrevo, do que escrevo ou como devo escrever. É que o poeta traduz aquilo que todos sentem da forma que ninguém diz, daquele jeito que nem todos conseguem, peneirando palavras, escolhendo possíveis significados. E eu nem sei o que faço dentro da poesia. Talvez seja um estranho indesejável, aquela visita chata que chega na hora do almoço.Talvez eu sequer exista por ali.

Há pistas para essa última verdade, a começar detesto preciosismo. Volto algumas vezes em meu texto para certificar-me de que se não for compreendido serei, ao menos, entendido pela maioria. Tenho isso em mim, não contemplo os gigantes, prefiro agradar à gigantesca maioria, e ela não tem tempo para os termos esquecidos no dicionário. Além disso não foge de mim a realidade que meus olhos enxergam, isso de trancafiar-me e escrever o que vem à mente apenas não me é possível. Eu vejo, toco e sinto, depois escrevo.

Às vezes me pergunto se não seria melhor colocar de vez esse ponto final. Parar. Pronto, não sei fazer isso e não farei. Mas é aí que percebo que se não estou na poesia, ela está em mim. A poesia ou qualquer outra coisa que seja isso que faço. Eu sou escravo disso, dessas palavras tortas, dessas linhas retas, das metáforas, das rimas, da métrica. Eu sou um escravo, é isso. Não sou um poeta, nem aprendi a amar.

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