Os efeitos colaterais de um encontro que nem aconteceu.


Um punhal de lembranças me atravessou dos pés a cabeça por dentro, quando pus os olhos em você, dentro da boca o gosto amargo da culpa se espalhou, engoli como se isso fizesse as coisas dentro de mim voltarem ao normal. Aí aquele sorriso amarelo e mecânico tomou conta dos nossos rostos, eu nem pude acreditar. Procurei alguma resposta para aquilo no chão encardido, enquanto me arrastava para longe de você, me perguntando, egoistamente, se teria ido até ali por alguns motivos, incluindo a mim.

Percebi que ainda me importo profundamente com seu bem estar, e por isso calculei rotas por onde eu deveria sair para que você não tivesse mais a infelicidade de nem se quer ter uma visão periférica minha, apesar da multidão, eu me sentia exposta sobre um pedestal iluminado, piscando, luzes em volta de uma frase bem grande apontando para mim "Olha aqui a moça, que estraçalhou seus sonhos, olha bem para ela, que moça sem coração." As pernas não obedeciam o comando de andarem mais rápido que meu cérebro emitia desesperadamente, um pânico de te encarar fazia com que minha cabeça pendesse para baixo, eu só enxergava os pés das pessoas, era só isso que pretendia ver até alcançar o fim da rua.

De novo o amargo, ao ver nossos amigos em comum, que ignorei com facilidade, não queria satisfações, não queria re-contar meus fracassos, já bastava se sentir um erro vivo, e ofegante, desesperado para fugir de uma situação que poderia muito bem apenas existir só na minha cansada, cheia e inquieta, mente. Até estar a uma boa distância, e segura, para se olhar para frente, já havia me desculpado milhões de vezes ao universo por existir, e ter pedido a Deus para ser mais rigoroso comigo, até que eu aprendesse a lição, sem exageros, mas a sensação era exatamente esta.Até que seu borrão se materializou distante, e uma onda de culpa me envolveu, quase me lançando ao chão.

Tudo ficou silencioso a minha volta, enquanto meu aflito, pulsante e desesperado coração, tentava entender a controversa destes sentimentos, enquanto lutava para não ser esmagados pelas forças que em igual medida, me arrastavam para perto e para longe do você, com um suspiro profundo, rastejei para dentro do escuro de minhas certezas, entrei no trem, repetindo para mim, o mantra "vai passar, vai passar, com sorte ele apenas te odeia agora, você não tem culpa, não tem, não tem, vai passar, tem que passar." o vento chicoteava meus cílios pesados por lágrimas que pareciam um rio de desespero infinito, que nascia lá de dentro, e morria entre os dedos que você não segura mais.

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