Presa em um eterno domingo.

Enquanto tento reunir as coisas espalhadas pelo quarto e colocá-las em seus devidos lugares, comparo a sensação ao que se passa dentro de mim, como se tudo o que eu mais quero estivesse fora do meu alcance, embaralhado em meio a confusão de sentimentos, de derrotas e prazos não cumpridos, tento esticar os braços até eles, eu tento reunir meus caquinhos o quanto antes, e limpar a bagunça que há em mim antes que as visitas cheguem, mas o relógio anda muito mais rápido do que meus esforços patéticos de salvar minha própria vida, que está empoeirando sobre esta cama.

Não há muito o que ver depois da janela, então eu não preciso me levantar hoje para ir até lá, posso ficar aqui comemorando minha impotência enquanto entro e saio de momentos de sono doloridos, confusos, mas protegidos da mais dura ainda realidade. Ou talvez seja só cansaço, de tudo, de todos, da rotina, que no meu vocabulário é o mesmo que "morte". Estou farta de tomar todos os cuidados para não ferir os sentimentos das pessoas, enquanto elas não pensam duas vezes antes de esmagar os meus, sabe, me deu uma preguiça tremenda de ir atrás de pessoas que se diziam amigas mas que não movem um SMS de distância para se reaproximar, tô de "saco cheio" de gente que me entulha com seus problemas mas não tem tempo para ouvir se quer, um assunto trivial meu por alguns segundos.

Quanto mais eu preciso de algumas pessoas, mais eu amo meu cachorro, é pesado admitir isto, mas é a mais pura verdade, cansei de me doar, de me doer pelos outros, se no final eu acabo sempre sozinha olhando para o teto do meu quarto, nesses domingos da vida, aliás a vida tem sido um eterno domingo, onde eu não participo de nada, apenas assisto a vida de fora, meus chegados se achegando cada vez mais para longe de mim, em programas que não sou mais inclusa. Vai ver eu cansei de me esforçar, paguei para ver se como eu já cansei de fazer, um dia alguém também me ligasse e perguntasse como estou, ou aparecesse na minha casa com uma garrafa de coca, ou um tinto, distrair, jogar conversa fora e esquecer um pouco desse mundo. Dói lembrar disso com nostalgia apenas.

Finalmente consegui juntar a bagunça do quarto, mas o coração ainda bate sem vontade no peito, mas hoje já não é mais domingo, é quinta, e ainda tenho que ir trabalhar, coloquei meu sorriso mais genuíno, e a roupa feita com tecidos de auto-confiança, ensaiei o melhor roteiro de "estou super bem", calcei os pés cansados de passar pelas mesmas ruas, engoli o choro, e saí, afinal a vida não para só porque você parou.

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