Quero papel passado, para sempre e você

Sabe amor,
o segundo travesseiro
que uso pra me encostar na hora de dormir
já não é mais o suficiente,
quero que seja seu corpo quente,
o despertador do celular
que me arranca da cama todas as manhãs
da maneira mais cruel, de longe me faz feliz,
quero ser arrancada de lá por você
ou convencida a ficar (soneca?)
talvez eu prefira ficar só que bem acordada,
traçando caminhos com a ponta dos dedos,
no seu rosto amassado
enquanto vou descobrindo todas as travessuras
no seu olhar que vagueia despreocupadamente
sobre meu pijama levantado, pela minha
falta de modos ao me deitar...

Com relutância vou levantar e fazer o café que você ama
docinho, e deixar na xícara com cuidado, para que não
esteja assim tão quente até você tomar,
submissão? Não! É amor e cuidado,
todo mundo querendo provar pra todo mundo que pode ser livre,
sem obrigações e sem submissão e esquecem do amor
porque quem ama cuida,
cede,
faz café ralinho de manhã,
mesmo não gostando de levantar e fazer café.
e é isso que mantem as pessoas juntinhas,
os casamentos de cinquenta anos...
Então amor, também quero dizer que odeio ter que te deixar ir,
queria toda vez que ficasse colado num abraço infinito,
que ficasse pro almoço,
eu ia fazer macarrão mesmo estando de dieta, porque sei
que você ama, e que me ama também.

Eu ia adorar ouvir você andando de chinelo pela casa,
e perguntando se o almoço já ta pronto, porque
o suco que estava fazendo já estava,
que o cheiro da comida já chegou na sala,
e suas mãos sorrateiras aparecendo como mágica
na minha cintura, enquanto eu provava o tempero do feijão,
enquanto me daria um beijo estalado na ponta do nariz,
eu ia ralhar com você só que um ralho cheio de amor
e você ia por a mesa, e a gente ia falar do trabalho
dos amigos que a gente nem vê mais
da felicidade que era estar ali
eu, você e o mundo
que eu inventei pra nós dois,
debaixo do cobertor,
não vejo a hora,
de papel passado
estar para sempre ao seu lado.