Corda Bamba

 Quando os dias começam a girar feito carrocel em torno de mim e a garganta vive apertada, uma sensação constante de estar sempre atrasada, de estar sempre perdendo alguma competição dentro de mim, o tempo todo, quando eu perco em que página da vida estou, quando os planos dão errado em efeito dominó, um após o outro, a respiração ofegante faz arder as narinas, o turbilhão de pensamentos fervendo na mente, a exaustão do ir e vir das minhas decisões, me ancorando eternamente à indecisão. Eu me recolho, me encolho. Feito um bicho assustado tentando se proteger do predador, crio uma muralhada de algumas poucas certezas, e espero a tempestade passar, enquanto me embalo no ritmo triste do meu fracasso. E quando todos pensam ser meu fim ao cambalear na corda elevada perante a platéia, eu respiro fundo, enrijeço, para grande espanto de todos, me ergo novamente, com um sorriso no canto da boca de: "dessa vez não vida, eu ainda sei me reerguer".